Misantropia Extrema Interview
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Metal progressivo, djent e uma forte consciência melódica são os vectores da sonoridade dos Aenemica, uma nova banda alemã formada por gente experiente e com as ideias no lugar. O EP de estreia chama-se «Empty Inside», sai no final do mês e pode ser uma boa opção para quem gosta de Tesseract ou Textures. O baterista John Sternberg ajudou-nos a conhecer melhor o projecto.
Vocês têm todos experiência e vêm de bandas, onde tocaram antes de formar os Aenemica. Que bandas eram essas?
Ao início a banda era um projecto paralelo do David [Vemmer, guitarrista] e meu. Antes disso, o David fazia parte de um colectivo rock bastante conhecido na nossa zona, chamado Chasing Caroline. Quanto a mim, tocava num grupo de metal progressivo chamado Perfect Symmetry, que chegou a ser moderadamente conhecido fora do país mas que nunca conseguiu assinar um contrato discográfico. Depois de ambas as bandas terminarem, tocámos juntos num projecto em que não conseguíamos expressar-nos totalmente, uma vez que entendemos a música como um intercâmbio criativo em que cada elemento deve ter possibilidade de contribuir com as suas ideias, sem perder de vista o relacionamento interpessoal. Depois de nos apercebermos que essa prerrogativa não era cumprida, deixámos a banda e recrutámos o Dima [Friesen, baixista], que tocava num grupo de metalcore chamado Cometh Of Indra, e o Fabio [Alessio, guitarrista] que, de certa forma, libertámos de uma banda de versões rock que não correspondia bem às ambições dele. O Daniel [Stendera, vocalista], que fazia parte de vários projectos pop/rock na altura, foi um dos participantes num concurso “Canta uma canção” de uma estação de rádio local de que ouvimos falar e entrámos em contacto com ele. Enviámos-lhe algumas maquetas de canções com o pedido de ele as ouvir. Algumas horas depois o Daniel estava confirmado como nosso vocalista.
Tinham uma ideia clara do estilo que iriam praticar quando começaram a falar de formar este projecto?
Ao início não sabíamos em que direcção musical nos levaria esta viagem, especialmente porque todos nós somos inspirados por backgrounds musicais muito diferentes. Demorou alguns ensaios até chegarmos ao ponto em que dissemos “OK, isto é porreiro. É esta a sonoridade e o tipo de música que queremos fazer”. É claro que existem sempre algumas discussões, especialmente em termos de gostos pessoais, mas julgo que a nossa abordagem musical difere das outras bandas. Tentamos filtrar os diferentes estilos e influências de cada um de nós e fundi-los numa coisa nova que não dê grande importância à sonoridade de outros grupos.
Queriam evitar algum tipo de erros que as bandas jovens e inexperientes normalmente cometem, com este novo projecto? Que tipo de erros?
Acho que os erros existem para serem cometidos e, vistas bem as coisas, para aprendermos com eles. Existem tantas bandas com tanto potencial, mas na sua maioria acabam por falhar porque nunca existiu no seu seio uma única discussão sobre as ambições do projecto. Uma banda tem de agir como uma equipa. Toda a gente deve saber a sua função e trabalho e saber como lidar com a diversidade da equipa. É óbvio que é necessário manter todo o grupo informado sobre os aspectos financeiros – equipamento, estúdio, trabalho gráfico, etc – que são suportados por toda a banda. Talvez isto soe um pouco economicista, mas a mentalidade rock’n’roll dos anos 70 não consegue, hoje em dia, fazer com que ninguém passe da sala de ensaios para um palco.
Quais são as principais influências musicais dos elementos do grupo? São todas aplicáveis à sonoridade dos Aenemica ou são selectivos na composição do projecto e usam apenas o tipo de influências que encaixam na sonoridade da banda?
Cada elemento tem as suas influências específicas, resultado das experiências que tivemos noutros projectos no passado. Tentamos criar um estilo de música para a qual cada um de nós possa trazer os seus próprios talentos e influências. O resultado é um género de influências melódias pop/rock, com a energia do rock e metal progressivo, riffs influenciados pelo djent e alguns tipos de metal e letras e voz influenciados por uma mistura de pop, baladas, R&B e rock.
Textures, Tesseract e Threshold são três das bandas que vêm imediatamente à cabeça quando se ouve o «Empty Inside». São influências?
O David é um enorme fã de Tesseract e por isso, tem de ser uma influência, que é claramente identificável na nossa música. Não estou muito familiarizado com a música dos Textures ou Threshold, mas creio que ambas as bandas têm sonoridades baseadas no rock, pelo menos pelo que ouvi do «Awake» dos Textures, e o nosso objectivo é ter uma abordagem similar, acrescentando elementos de outros géneros e dos nossos backgrounds musicais também.
Sobre o que falam, em termos gerais, as letras das canções?
As letras lidam com os sentimentos e problemas que toda a gente já teve ou consegue compreender. Mas não se trata apenas da esfera amorosa. É também sobre perder alguém importante ou o sentimento de sermos inúteis ou não sermos suficientemente bons. Tentamos, assim, construir uma ligação entre nós e o ouvinte. Temos o objectivo de despertar sentimentos no ouvinte através da audição das músicas.
O EP está a ser lançado pela Phonector. Que tipo de editora é?
Antes de termos encetado o contacto com a Phonector, tivemos duas propostas de editoras independentes com condições que não encaixavam naquilo que é o nosso entendimento de como queremos lançar o nosso material. E fundar uma editora própria também não era uma opção. Por isso, após uma pesquisa intensiva na internet encontrámos a Phonector, que nos dá a possibilidade de lançarmos o nosso material de forma independente, autónoma e sem a estrutura clássica de uma editora. Temos depois liberdade para trabalhar com a Phonector na distribuição física e digital.
Parece existir uma enorme variedade de idades dentro da banda, quando olhamos para as fotos. É mesmo assim?
[Risos] É interessante que tenhas reparado nisso. Sim, o Daniel tem 20 e poucos anos e é, por isso, o elementos mais novo. Seguem-se o David e o Dima, que estão a meio dos 20 e os mais velhos são o Fabio e eu, que temos 30 e poucos. Mas sentimo-nos como se tivéssemos 20, embora com um pouco mais de experiência. [risos]
Tendo todos experiências em bandas no passado, qual a vossa abordagem aos concertos? Tentam tocar sempre que possível ou têm algum critério de escolha, tipo não se sobre-exporem ou não perder dinheiro?
Acho que é muito importante para uma banda tocar ao vivo. No entanto, deve sempre fazê-lo em concertos que compensem financeiramente ou sejam efectivos na promoção da banda. Existem muitos grupos que nunca saem da sua área local. Para nós é de extrema importância comunicar a qualidade e o prazer que temos em tocar, sem nunca perder a abordagem profissional. Nunca daremos concertos em que temos de pagar para tocar.
Posto isso, têm objectivos a médio e a longo prazo definidos para a banda?
Depois do lançamento do EP, que consideramos uma ponte para o próximo passo, vamos dar alguns concertos mais pequenos com uma setlist grande. O primeiro vai, como é óbvio, acontecer na nossa zona. Em 2015 vamos tentar tocar ao vivo tanto quanto possível, em festivais open air e em clubes aqui na Alemanha e lançar também o nosso álbum «Anatomy Of Sadness», que deverá já estar terminado por essa altura.
«Empty Inside» é editado no dia 29 de Agosto.